GRIPE A???
Há semanas que parecem teste. Teste de paciência, teste de resistência física, mental, emotiva. A nossa esemana está demorando muito para acabar.
No domingo, Ilios passa do nariz entupido ao nariz que escorre, que faz barulho estranho e que fica feio. A energia dele foi terminando ao longo do dia e, lá por volta das duas da tarde, ficou febril. Ligamos para o médico de urgência e ficamos esperando ele chegar: “hoje tá difícil, ele pode passar entre 16h e 22h”, disse a voz da secretária. Beleza, vamos esperar e torcer. Enquanto isso, a febre foi para os 39. Banho, paracetamol e nada. O menino foi murchando e só queria colo. Cantarolava como se estivesse no delírio e lutava contra o cansaço sem muita resistência. Riiing, o médico. Auscuta, pergunta, observa e coloca aquele palito de picolé até o menino quase vomitar. A gente olha com ansiedade. “Os ouvidos estão limpos, a garganta vermelha, mas sem infecção. Essa febre… É, ele está com gripe”. “GRIPE A???”, eu pergunto e tento esconder a histeria. “É, essa é a gripe que está circulando por aí. As crianças estão todas com febre de 40 hoje. “Meeeerrrrrda, doutor, e agora?” “Agora é só esperar alguns dias, dar o paracetamol e tirar essa roupa toda do menino, deixar ele descoberto até a febre baixar. Ele deve estar sentindo as tais dores no corpo…” E eu já não ouvia mais nada, pensava na reação da família no Brasil, me via doente com o Chris e os meninos dele doentes também, dali a alguns dias. Fatalidade, desespero, puta-que-o-pariu!
A noite foi difícil para Ilios. Ele respirava mal com o nariz cheio de catarro. A febre foi passando, mas a tosse provocava grande incômodo. Na manhã seguinte, operação de guerra: nós, mascarados, preocupados em passar o tal do álcool em gel nas mãos, antes e depois de encostar no menino. Colocamos os meninos do Chris para dormir na sala. Chris já acordou contagiado pela Gripe A, me fazendo mímicas para que eu não chegasse perto dele (a boca estava coberta pela máscara e ele devia imaginar que eu não ouviria o que dissesse, hilário!). Eu acabei levando os meninos para a escola. Na volta, ligamos para o nosso médico (o melhor médico do mundo, que é professor, que dirige o Larousse da medicina, que é o revisor técnico da versão francesa de “ House”!!!!!!!). “Como está o Ilios, com febre?” “Não, a febre cedeu.” “Cedeu? Então não é gripe, não!!!” E, graças a Deus, não era!!! Mas precisava durar uma noite? Já deu uma cansada… A segunda-feira passou voando, a terça chegou e eu fui trabalhar. Ilios ficou com o pai e a febre voltou a atormentar. O nariz continuou entupido e o que saía dele tomou corpo, ficou verde e não deixou o nosso menininho em paz durante mais uma noite. Conseguimos consulta de urgência com a pediatra para hoje à tarde. Eu já pensando em bronquite, pneumonia… A pediatra examina, auscuta, palito de picolé até quase vomitar: “os ouvidos estão limpos, a garganta vermelha, mas não é nada não. Aliás, ele vai à creche, n’est-ce pas?” “Vai.” “Bom, é isso: a creche e esses caninos que estão nascendo. Sem falar no tempo que está fazendo, n’est-ce pas?” Tempo de merda, cinza, cheio de vírus, bactérias e outros animais malvados que atacam criancinhas!
A coisa é continuar cuidando do menino. E nós só estamos começando a temporada de frio…
Coisas boas: hoje, ele me tirou para dançar! A gente tem ouvido ou disco que a amiga Ana Sader deu de presente para ele. São músicas conhecidas, como “A barata diz que tem” e “Terezinha de Jesus”, mas numa versão lenta, calminha. Eu mostrei para ele que a gente pode dançar de mãos dadas, balançando os braços. Ele aprendeu. Ensinei que a gente pode soltar as mãos e dar uma giradinha, lentamente. Ele aprendeu. Aí hoje pegou na minha mão para dançar e depois soltou, deu a girada e sorriu. O que vocês querem que eu diga depois disso?